De 16 a 18 de maio, Celorico de Basto viveu a 3ª edição da Festa das Plantas Aromáticas e Medicinais, um evento que tem vindo a afirmar-se com o objetivo de mostrar as potencialidades da flora local em diferentes áreas do saber.
O epicentro desta iniciativa decorreu na Casa da Terra e na praça Albino Alves Pereira com o Mercado Aromas e Sabores e o espaço de Aromaterapia, em permanência. Contudo, muitas das ações promovidas nesta vill’aromática desenvolveram-se em pontos estratégicos do concelho, com o objetivo de promover o território, e mostrar as potencialidades deste produtos únicos que são as plantas aromáticas e medicinais.
Com individualidades reconhecidas a nível nacional e internacional, como a herbalista Fernanda Botelho e Alice Montanha, o evento ganha também notoriedade e reconhecimento nestas matérias. “A importância de termos pessoas que se destacam na matéria a nível nacional e internacional acrescenta valor ao evento e dá-nos a certeza das potencialidades reais do território quando falamos em ervas aromáticas e medicinais. Procuramos atuar de forma a preservar o meio ambiente com políticas que salvaguardem a nossa fauna e flora, a nossa ruralidade, com estratégias sustentáveis mas pelo caminho do progresso” afirma o Presidente da Câmara Municipal de Celorico de Basto, José Peixoto Lima.
Ao longo dos três dias de festa foi possível participar em aulas andantes com a reconhecida herbalista Fernanda Botelho, momentos plenos de enriquecimento pessoal, na quinta da Bouça e na Escola Profissional Agrícola Eng. Silva Nunes, preparar um kit herbal de primeiros socorros, no Parque Urbano do Freixieiro, com a herbalista Alice Montanha, participar na oficina de culinária silvestre com plantas espontâneas “A Recolatera com a chef Maria Tavares”, e usufruir da oficina “Lanterna Aromas da Primavera” parta crianças dos 3 aos 8 anos, no Parque de Boques.
As II Jornadas para a valorização do território de Celorico de Basto – Paisagens de Celorico, voltou a ser umas das iniciativas mais participadas pelo interesse dos assuntos abordados.
Fernando Botelho, nestas jornadas, falou sobre a urgência em saber descodificar, entender e agradecer os benefícios da plantas que nos rodeiam, e deu nota da necessidade premente e “fundamental de aumentar a literacia nas plantas à nossa volta. Conhecer as plantas, os seus benefícios, usos e potencialidades deve ser algo comum”. Reforçou a importância de consultar as plataformas digitais fidedignas para um conhecimento integral das plantas. Um conhecimento que a Escola Profissional Agrícola Eng. Silva Nunes tem vindo a passar aos seus alunos, com método para que saibam “ o que a natureza oferece, o que plantam e o que colhem, na perspetiva de educar, sentir e aromatizar” como reforçou a professora desta escola, Lúcia Gonçalves.
Ainda nesta jornadas, o ICNF, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, pelo eng Paulo Bessa, abordou a “a influência dos incêndios rurais nos ecossistemas locais” um tema que proporcionou o debate com o ICNF a destacar as mudanças que os incêndios têm vindo a sofrer nos últimos anos, por força das alterações climáticas, do abandono, do envelhecimento das populações, os efeitos das plantes invasoras e de outros fatores, que têm vindo a contribuir para mudar a forma de atuar e até a sensibilização para este problema. Abordou ainda a atuação pós incêndios, a regeneração dos solos, as medidas para reflorestar, a atuação em florestas privadas… Os incêndios é um problema que efetivamente se tem vindo a sentir e Celorico de Basto não tem passado ao lado. Um concelho em que 95% das florestas são privadas e “muito fragmentado, com parcelas muito pequenas. As soluções que temos vindo a implementar são as ZIF’s, Zonas de Intervenção Florestal, zonas em que os proprietários têm que procurar entender-se para que numa área em continuo haja uma entidade que faça a gestão, uma dificuldade que temos vindo a sentir, os nossos proprietários não são muito recetivos a esta abordagem o que cria uma dificuldade acrescida na gestão e limpeza das florestas. Outra dificuldade é que temos hoje no nosso território, é a capacidade de identificar a quem pertence determinadas áreas florestal, uma dificuldade quando queremos fazer ordenamento e avançar com medidas, para termos uma florestas mais ordenada e mais resiliente” disse José Peixoto Lima, no debate sobre esta temática. Em 2024, Celorico de Basto viveu situações complicadas e de difícil gestão. “O município tem planos para gestão da floresta e combate aos incêndios, e temos vindo a fazer um esforço para fazer novos caminhos florestais, acesso a pontos de água quer a nível terrestre quer aérea, e com isso estamos a criar uma quadricula cada vez mais pequena de espaços que tenha uma boa rede florestal para cortes naturais contra os incêndios. 2024 foi um ano negro para Celorico de Basto, no que respeita aos incêndios, tivemos capacidade para combater numa primeira fase, mas a mudanças de ventos tornou o combate incomportável. Infelizmente vamos ter cada vez mais situações semelhantes, fenómenos extremos frequentes, dias secos e temperaturas muitos elevadas, e por isso, o ordenamento das florestas é cada vez mais necessário e diz respeito a todos, com estratégias que preservem o meio ambiente e permitam o crescimento adequado, em contexto favorável da vegetação”.
Na sequência deste tema, amplamente debatido, Alice Montanha e André Montanha falaram da arte de regenerar e aproveitam a oportunidade para, ao contrario do que tinha sido abordado, olhar para as plantas invasoras como aliadas e não como inimigas. “Saber adaptar o que a natureza nos dá às circunstâncias é também uma arte. As plantas invasoras devem ser usadas em nosso benefício, em vez de pensarmos em destrui-las o caminho passa em perceber como as podemos usar como aliadas. Temos de mudar a perspetiva do ser humano destruidor para o ser humano regenerador, com atenção ao livro da natureza. É preciso saber cuidar da terra, como cuidamos de nós, tudo isto feito com sabedoria e amor traz excelentes resultados” disse.
A vill’aromática teve um espaço de aromaterapia, o poder dos óleos essenciais, com vários parceiros presentes. Os estendal das aromáticas esteve na Casa da Terra, em permanência. A Resinorte mostrou-se com uma “Banca Pedagógica – Semear e cuidar do Ambiente” e Andorinha Astuta promoveu uma oficina livre de ilustração de Postais. Ao longo dos três dias, o Mercado Aromas e Sabores foi animado pela Andorinha Astuta, com o concerto do Grupo de Cavaquinhos da Escola Profissional Agrícola Eng Silva Nunes, os Trigueirinha, e os Coletivo Capela.
Um fim de semana pleno de atividade onde ficou reforçada a necessidade de saber mais sobre a flora local, na perspetiva de enriquecimento individual e coletivo de uma comunidade.












